Considerações para escolha da melhor âncora

Apesar de hoje contarmos com dezenas de modelos de âncoras e dentro de cada modelo, dependendo do fabricante, encontrarmos dezenas de variações, até a década de 1930, a única opção profissional que o iatista podia encontrar no mercado era a velha almirantado, que em função do seu peso e dificuldade para armazenamento é praticamente inviável para as embarcações de esporte e recreio atuais. Testes tem mostrado que ainda hoje essa guerreira permanece uma das mais eficientes âncoras para fundo de pedra, continuando sendo usada por muitos pescadores.
Em 1933 o iatista e matemático Sir Geoffrey Ingram Taylor com o seu projeto da CQR deu início a uma corrida para se chegar a âncoras mais práticas e eficientes. Em seguida vieram Danforth, Bruce, Delta e as inúmeras outros opções disponíveis hoje no mercado náutico.

Qual é a melhor âncora náutica?

A melhor âncora não é aquela que possua apenas maior capacidade de retenção. Isso é importante, porém a melhor âncora é aquela que consiga manter um equilíbrio entre diversos fatores como:

1. Robustez de materiais e de construção
2. Pesos e estabilidade de formas
3. Capacidade e rapidez de penetração no fundo
4. Estabilidade de retenção mesmo com mudanças de direção
5. Capacidade e rapidez de redefinição
6. Capacidade de retenção após penetrar o fundo
7. Capacidade de se desvencilhar de obstáculos e resíduos no fundo
8. Não ser sujeita a bloqueios ou travamentos em articulações
9. Capacidade de posicionamento correto ao tocar o fundo
10. Facilidade de armazenamento

Como podem ver, são muitas as variáveis necessárias para se determinar a melhor âncora. Lembrem-se disso antes de comprar uma nova.
Vejamos com mais detalhes as características acima descritas:

1. Uma boa âncora precisa ser robusta.

Na sua maioria, as âncoras mais robustas são fabricadas em aço carbono e galvanizadas a quente para proteger contra corrosão. Para garantir a sua ductilidade em diferentes temperaturas, o teor de carbono do aço utilizado não deve ultrapassar 0,21%. No corpo da pata (pá) da âncora pode ser utilizado um aço baixo carbono com resistência ao escoamento por volta de 250 Mpa, no entanto outras partes como a haste precisam ter uma atenção especial. É desejável que a borda de ataque da pata que pode sofrer impactos contra pedras também seja fabricada com material mais resistente à impactos e abrasão. A haste é a parte da âncora que precisa ter o menos peso para manter o centro da gravidade baixo e a âncora tenha estabilidade. Por outro lado, é a parte que sofre maior esforço, principalmente caso a pata fique presa em uma pedra ou outros obstáculo e o barco mude de direção, fazendo com que ela sofra esforços laterais. Em situações como esta, se a haste não for feita de um material muito resistente, vai entortar. Para manter esse compromisso de resistência/leveza, a haste necessita ser fabricada com um material muito mais resistente que a pata, ou seja: um material com resistência ao escoamento de 700 Mpa ou acima. Alguns fabricantes, por questão de preço ou até desconhecimento, resolvem a questão da resistência da haste aumentando a espessura e/ou a largura da mesma. Isso resolve o problema da resistência, mas aumenta o peso na parte de cima subindo o centro da gravidade , tornando a âncora mais instável e comprometendo o seu desempenho. Outro aspecto importante da robustez de uma âncora é sua construção em si. Soldas e parafusos, caso haja, precisam ser dimensionados adequadamente e protegidos contra corrosão. 

2. Pesos e estabilidade de formas é outro atributo importante para uma âncora. Existe uma falsa crença de que quanto mais pesada melhor a âncora. Isso só é verdade para âncoras muito antigas ou modelos desprovidos de tecnologia adequada que dependem principalmente do próprio peso para afundar no solo. A prova disso é que existem âncoras de alumínio muito eficientes que dependem de suas formas e não do peso para se fixarem, pesando menos que a metade que suas equivalentes de aço. Algumas boas âncoras se valem de lastros de chumbo ou aço nas suas pontas de ataque para manter o seu centro de gravidade baixo e se posicionar em adequadamente no fundo, penetrarem no solo e se manterem estáveis. Apesar de uma solução eficiente, uma âncora com lastro geralmente terá uma área de pata menor que outra de mesmo peso que não necessite de lastro e a capacidade de retenção das âncoras é diretamente influenciada pela área de suas patas. As âncoras mais modernas utilizam a sua geometria e distribuição de pesos para conseguir a estabilidade sem necessidade de lastros, conseguindo assim maiores áreas comparando-se com modelos que usam lastros. Elas utilizam o peso que usariam como lastro para aumentarem suas áreas e consequentemente suas capacidades de retenção. Analogicamente é como a maioria dos barcos mono cascos, que conseguem sua principal estabilidade através de lastros e os multicascos que a conseguem através das formas. Os multi cascos possuem áreas muito maiores para o mesmo peso que os mono cascos.

3. A capacidade de se posicionar corretamente assim que toca o fundo é um dos atributos necessários a uma boa âncora. 

Isso vai ser determinado pelo seu desenho geométrico e distribuição de pesos. Não importando a posição que caia no fundo, ela precisa ter uma afiada borda de ataque que imediatamente se posicione em um ângulo agressivo contra o solo assim que toca o mesmo. Só assim ela unhará imediatamente quando for puxada sem arrastar ou planar na  superfície.

 Um dos maiores problemas das âncoras articuláveis tipo Danforth é não conseguir um  ângulo de ataque agressivo quando toca o solo, podendo arrastar muito antes de se posicionar para unhar principalmente em fundos de consistência dura.

 

4. Uma vez unhado, a capacidade e a rapidez de penetração no fundo são outros importantes atributos de uma boa âncora. 

O formato da pata é um dos fatores mais importantes para determinar essa capacidade. Âncoras com patas convexas tipo arado tem a tendência de “arar” o fundo arrastando sobre ele com cargas elevadas.

âncora dagger anchor em atividade
Dagger Anchor – Atlantic

Âncoras com bodas de ataque rombudas como a Bruce também encontram dificuldade em penetrar profundamente principalmente em solos duros ou com vegetação. Testes comparativos têm demonstrado que os melhores formatos de patas são os de formar côncava e com bordas de ataque finas e afiadas. Uma vez que a afiada ponta tenha penetrado o fundo, a forma côncava tende a cavar cada vez mais o fundo, o ângulo resultante que a haste faz com a pata também contribui para a penetração. O ângulo ideal para que isso ocorra está entre 30 e 35 graus. Ângulos menores que 30 graus não fornecem uma progressão adequada para a âncora continuar a penetrar com o aumento da carga, e ângulos maiores que35 graus têm a tendência de fazer com que a âncora se solte e fique quicando no fundo sem conseguir penetrar, principalmente em fundos duros.

5. Após penetrar adequadamente o próximo atributo da boa âncora é sua capacidade de retenção. 

Os testes e comparações demonstram que as âncoras com patas de formatos côncavos ou planos apresentam enormes vantagens em comparação com formatos convexos. Outro fator que determina a capacidade de retenção da âncora é a sua área de ataque da pata. As modernas âncoras com boa distribuição de peso que não necessitam de lastro para conseguir estabilidade levam vantagem em relação as que necessitam de lastro por conseguirem ter uma maior área de ataque de suas patas para o mesmo peso.

 

6. Muitas âncoras, principalmente as antigas, perdem sua estabilidade e capacidade de retenção, se soltam e tenta unhar novamente quando os esforços sobre elas mudam de direção com mudanças de ventos forte ou marés. Nestas condições, as modernas âncoras côncavas geralmente giram abaixo do solo mantendo sua estabilidade e capacidade de retenção na nova direção.

 

7. Caso aconteça que em algum momento a âncora seja submetida a esforços extremos por influência de ventos muito fortes, ondas e mudanças bruscas de direção e o limite de resistência do solo seja ultrapassado, a âncora pode se soltar. Caso isso aconteça, a boa âncora precisa ter capacidade e rapidez em se redefinir e enterrar-se novamente no solo sem planar ou arrastar. Para isso ela precisa preencher, no mínimo, os requisitos comentados nos itens 2, 3, 4 e 8.

 

8. A boa âncora precisa ter a capacidade de se desvencilhar de lixo, sacos plástico, pedaços de madeira, pedras e outros obstáculos que possa encontrar no fundo. Para isso ela precisa ter um desenho fluido, limpo e desimpedido para que estes obstáculos deslizem através dela sem se prenderem na mesma. Uma âncora, que por algum motivo se solte do fundo e mantenha preso no seu corpo um bloco de lama dura ou qualquer outro obstáculo como os citados acima que a impeça de se posicionar corretamente, dificilmente vai unhar e se redefinir enquanto não se livrar dos mesmos.

 

9. Para um bom funcionamento uma âncora não pode sofrer bloqueios em suas articulações caso as possua. 

As âncoras articuláveis tipo Danforth são as mais vulneráveis a esse tipo de problema. Caso alguma coisa se interponha em sua articulação impedindo que as patas passem através de sua haste, ela jamais unhará enquanto esse obstáculo não for removido.

 

10. Por fim, uma outra característica desejável em uma âncora é sua facilidade de armazenamento. 

Guardar uma âncora tipo almirantado em uma pequena embarcação de esporte e recreio é praticamente impossível, enquanto uma Danfoth pode ser acomodada facilmente em um pequeno paiol. As âncoras modulares são as que mais se destacam neste quesito. Caso seja necessário transportá-las ou armazena-las poderão ser desmontadas passando a ocupar pouquíssimo espaço.

 

Conclusão:
âncoras modernas custam mais caro, porém suas inúmeras e enormes vantagens compensam o investimento. Enquanto com uma âncora antiga você precisa ficar fazendo manobras para ela se posicionar, unhar e se estabelecer no fundo, uma âncora moderna de alto desempenho assim que cai no fundo, se posiciona corretamente por si só e se enterra no fundo assim que sofre tração.

Enquanto sob tensão uma âncora antiga se solta cada vez que muda de direção precisando unhar novamente, uma boa âncora moderna simplesmente gira embaixo do solo e mantém a retenção. Enquanto uma âncora antiga se solta ou arrasta sob cargas extremas, uma âncora de nova geração, bem projetada e construída penetra mais fundo encontrando camadas mais densas no fundo do mar impedindo que seu barco se desloque.

Enfim, investir em uma moderna âncora de alto desempenho, que incorpore todas as qualidades e características acima enumeradas neste artigo é investir em segurança e isso faz valer a pena cada centavo gasto a mais.

 

 

Francisco A. de Góis – Design Enginneer, Velejador e Capitão Amador.

 

Tipos de âncoras para barcos



Âncora Tipo Almirantado (Fisherman)

Não há dúvidas que o tipo de âncora mais conhecida pelas pessoas no mundo todo é a almirantado, que em inglês, além do seu nome original “admiralty”, também é conhecida por fisherman (pescador). Difíceis de manusear e armazenar, essas âncoras, para que funcione mais adequadamente, necessitam ter muito peso. Suas patas pequenas arrastam na maioria dos fundos se não forem muito pesadas, o que praticamente inviabiliza o seu uso em pequenas embarcações de esporte e recreio. No entanto, são eficientes em fundos rochosos, recifes e fundos com vegetação, o que, a meu ver, justifica o seu nome em inglês – fisherman. O pescador necessita ancorar onde os peixes estão, ou seja: sobre fundos rochosos, lajes, recifes e vegetação.

 


Âncora Tipo Arado
As âncoras do tipo arado, como seu nome sugere, funcionam como o arado agrícola. Após penetrar no fundo a sua forma convexa sob esforços, tende a dispersar o solo a sua frente exatamente como faz o arado na agricultura, deslizando sob o fundo do mar.
A CQR, é uma ancora tipo arado de haste articulável projetada no início da década de 1930 pelo matemático britânico Geoffrey Ingram Taylor. Apesar de necessitar ser muito pesada e muitas vezes arrastar e demorar a penetrar o fundo, durante muitos anos foi a única ancora compacta para pequenos barcos de esporte e recreio e isso a tornou muito popular entre os cruzeiristas.

A Delta foi projetada na década de 1990. Sua haste fixa e aletas do arado são uma evolução da CQR, incorporando também algumas características da ancora tipo garra Bruce. Apesar de conseguir superar as performances das CQR e Bruce, mantem, em menor grau, os inconvenientes de uma âncora tipo arado já mencionados acima.



Âncora Tipo Danforth e similares (âncoras planas articuláveis)

As âncoras tipo danforth foram desenvolvidas pelo engenheiro americano Richard Danforth um pouco após a CQR. Por seu baixo peso em relação a área de suas lâminas foi muito usada para ancorar hidroaviões. A forma atual desta ancora foi patenteada em 1948. É uma âncora com ótimo poder de retenção em fundos “softs” tipo areia fofa e lama, porém em fundos duros tipo areia compacta e solos com vegetação ela deslizará nesta superfície com muita dificuldade para se estabelecer e penetrar no solo. Sua melhor característica é o baixo peso em relação ao tamanho. No entanto ela tem uma desvantagem que é considerada muito preocupante. Se o barco sofrer mudanças repentinas de direção em função de inversões fortes de ventos ou marés ea âncora se soltar ela encontrará muita dificuldade para se estabelecer novamente e penetrar o fundo, arrastando e pondo a embarcação em perigo. Definitivamente não é uma âncora para se deixar o barco ancorado, sem vigilância, em locais que podem sofrer mudanças repentinas de ventos e marés.

 



Âncora Tipo garra (Bruce)

Esta âncora foi projetada por Peter Bruce no início da década de 1970 conseguindo eliminar várias desvantagens das âncoras CQR e Danforth e rapidamente se tornou popular entre navegadores do mundo todo. Ela se comporta bem em fundos de lama e de areia de consistência fofa a média. No entanto em fundos duros de areia compacta e fundos de argila ela encontra muita dificuldade para atuar. Em fundos com vegetação ela dificilmente se estabelece e penetra adequadamente o solo marinho, praticamente inviabilizando seu uso neste tipo de fundo. A Bruce original deixou de ser fabricada a muito tempo. O que se encontra hoje no mercado são cópias, na sua grande maioria malfeitas, o que coloca seus usuários em sérios riscos.



Âncoras de nova geração

Todas as âncoras acima são representantes de velhas gerações que estão sendo substituídas por outras modernas e muito mais eficientes.
Todos os testes e comparativos de âncoras efetuados por especialistas tem demonstrado a grande superioridade dessas novas âncoras sobre suas antecessoras.
Dentro dessa nova geração se destaca a Dagger Anchor, uma âncora de alta performance e qualidade, concebida para atuar com segurança em qualquer tipo de solo marinho.

Dagger Anchor – Âncoras de alta performance
Desenvolvida pela Dagger Marine, a Dagger Anchor é uma âncora de última geração e de alto desempenho que substitui com inúmeras vantagens todas as outras acima descritas. A sua fabricação modular em Aço carbono estrutural de alta resistência, aço inoxidável 316L e duplex ou ligas especiais de alumínio de alta performance, lhe confere desempenhos excepcionais em qualquer tipo de fundo subaquático.
Como os testes desta âncora tem demonstrado, suas formas geométricas e distribuição de pesos, garantem que a mesmas se posicionem de forma correta com a sua afiada ponta de ataque voltada para baixo assim que atingem o fundo, garantindo seu completo e correto estabelecimento e penetração no fundo seja ele de composto mole ou duro, com ou sem vegetação, garantindo ancoragens rápidas e seguras em qualquer tipo ambiente.

Alguns tipos de âncoras, como descrito acima, assim que tocam o fundo do mar e conseguem penetrar no mesmo, têm a tendência a se mover através dele. Outras, em alguns tipos de fundo, deslizam na sua superfície sem conseguir penetrar no mesmo, enquanto outras mesmo tendo conseguido se estabelecer corretamente, caso se soltem por uma inversão brusca de vento ou maré, não conseguem se estabelecer novamente deixando o barco à deriva e em perigo.

As âncoras Dagger anchor, como seu próprio nome sugere, como uma adaga, crava rápido e profundamente assim que toca o chão e começa a sofrer esforço, seja qual for o tipo de fundo. Assim que sua ponta afiada como uma adaga toca no fundo e é puxada pelo segmento do barco, crava imediatamente no solo. Sua lâmina côncava, ao contrário da forma de arado, tende a compactar o material a sua frente, aumentando sua resistência ao arrasto. Quanto maior o esforço sofrido, mais ela se enterra atingindo camadas mais densas, com maior capacidade de retenção no fundo marinho.

A montagem inteligente e modular de sua haste não depende de esforços sobre parafusos que podem falhar ou se soltarem.

A sua parte de baixo lisa e sem parafusos, permite que ela seja apoiada sobre um convés sem danificá-lo.

Sua montagem ou desmontagem é simples e rápida, e quando desmontada ocupa um mínimo de espaço.